22 novembro 2019

Ecos de Sabra e Shatila


O Massacre de Karantina - 18 de janeiro de 1976. O Líbano em ebulição com uma guerra civil. Karantina é um bairro de moradias pobres, próxima a um matadouro, poluidor do rio Libano, que teve este nome por conta de uma zona de imigração e quarentena instalada ali, controlada por forças da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), mas principalmente habitada por curdos e armênios, bem como alguns libaneses e palestinos muçulmanos.
Karantina foi atacada por milícias de cristãos-libaneses, resultando no assassinato de aproximadamente mil pessoas. Os combates e assassinatos subseqüentes envolveram também as proximidades do bairro Maslakh.

O Massacre de Damour – dois dias depois, a 20, em Damour, uma cidade cristã situada ao sul de Beirute, foi atacada por militantes da Organização para a Libertação da Palestina (OLP). Cerca de 330 pessoas foram mortas, entre civis e combatentes e o restante foi obrigado a fugir. Uma série de atrocidades e atos terroristas foram cometidos pelas falanges libanesas, por Israel e pelos grupos palestinos envolvidos no conflito - entre as quais, o massacre de Damour onde palestinos mataram de 25 a 600 pessoas cristãs (de acordo com diferentes fontes) da cidade ao sul de Beirute.

O Massacre de Sabra e Chatila – 19-20 de setembro de 1982 - quando as falanges/milícias cristãs maronitas liderada por Elie Hobeika massacraram cerca de 3 mil civis palestinos e refugiados durante três dias, como retaliação pelo assassinato do presidente eleito do país e líder falangista, Bachir Gemayel. O evento ocorreu nos campos palestinos de Sabra e Shatila situados na periferia sul de Beirute, área que se encontrava então sob ocupação das forças armadas de Israel. A primeira unidade de 150 falangistas, armados com pistolas, facas e machados entraram às 18h nos acampamentos de Sabra e Chatila. Sua missão era localizar supostos guerrilheiros da OLP e desarmá-los. No entanto, o que na realidade se sucedeu foi um massacre de palestinos, a imensa maioria mulheres, crianças e anciãos. O genocídio se prolongou por mais de 30 horas. A par das execuções, houve também estupros, torturas e mutilações. E tudo com a anuência e favorecimento do exército de Israel
Choro e fico me perguntando. Até quando? Vale devolver na mesma moeda?

Artigo detalhado pode ser lido em https://www.brasildefato.com.br/node/10642/

21 novembro 2019

Maria e o Templo

Para uma reflexão sobre a liturgia de hoje, 21 de novembro, Memória da apresentação de Nossa Senhora, trago reflexão do portal www.dehonianos.org :

"A Apresentação de Maria ao Templo não tem qualquer fundamento bíblico. São os evangelhos apócrifos que falam desse presumível acontecimento. Mas é claramente improvável que uma rapariga tenha sido confiada ao clero de Jerusalém, num Templo inacessível a mulheres. Lemos no protoevangelho de Tiago: «Quando a menina completou três anos, Joaquim disse: «Chamai as meninas dos hebreus que não tenham qualquer mancha e tome cada uma delas uma lâmpada, uma lâmpada que não se apague. A menina não deverá voltar atrás e o seu coração não permanecerá fora do Templo do Senhor». Elas obedeceram àquela ordem e foram juntas ao Templo do Senhor. E o sacerdote acolheu a menina, tomou-a nos braços e abençoou-a dizendo: «O Senhor glorificou o teu nome em todas as gerações. Em ti, nos últimos dias, revelará a redenção que concede aos filhos de Israel». E mandou sentar a menina no terceiro degrau do altar. E o Senhor encheu-a de graça e ela dançou e tornou-se querida por toda a casa de Israel. Os seus pais deixaram o Templo cheios de admiração, louvando a Deus: a menina não procurou voltar atrás. E permaneceu no Templo do Senhor, semelhante a uma pomba, e a mão de um anjo oferecia-lhe o alimento» (Protoevangelho de Tiago 7, 2-8,1). É tudo muito bonito, mas é tudo muito «sobrenatural», bem pouco em sintonia com o realismo do mistério da Encarnação.
A Santa Sé admitiu a festa somente em 1372, a pedido do embaixador do rei de Chipre "e de Jerusalém". Mas ela só aparece no Missal Romano a partir de 1505.
O Lecionário litúrgico oferece-nos uma proposta unitária para tornar verossímil a interpretação do acontecimento: a tipologia da presença. As duas leituras detêm-se nessa modalidade relacional. O oráculo de Zacarias proclama a presença de Deus no Templo e transmite a palavra do próprio Deus que se apresenta, como que a explicar o sentido e o significado dessa decisão divina, que enche de alegria o povo e há-de levá-lo à contemplação. Se o mistério da presença de Deus no meio do seu povo era uma realidade no Antigo Testamento, mais o é no Novo Testamento. A Santíssima Humanidade de Cristo é o novo Templo, o novo ´lugar´ da Presença de Deus no meio de nós. Em Jesus, Deus torna-se presente ao homem, e o homem tem o caminho para se tornar presente a Deus. A primeira criatura que beneficiou dessa presença, e se apresentou a Deus, foi a Virgem Maria. Nela se realizou, como em ninguém jamais, a mútua presença e imanência: Deus apresentou-Se a Ela e Ela apresentou-se a Deus; Deus permaneceu nela, e Ela permaneceu em Deus. O evangelho refere a presença de Maria junto do seu Filho. Esta presença como que torna visível o mistério profundo que meditamos. As palavras de Jesus, sobre a identidade daqueles que Ele julga seus parentes, deixam clara a mensagem: o Senhor está presente junto da pessoa humana; sendo assim, a pessoa humana tem a porta aberta para se apresentar diante do Senhor. Se o Templo torna visível o encontro entre Deus e o homem, a Santíssima Humanidade de Cristo torna-o ainda mais visível.

Tendo como pano de fundo o delicado símbolo da presença de uma menina na solenidade do Templo, isto é, a chamada «apresentação de Maria ao Templo», a liturgia hodierna leva-nos a meditar no sentido de uma apresentação de nós mesmos diante do Senhor. A própria presença diante do Senhor torna-se apresentação todas as vezes que é iluminada, explicada, motivada, cultivada pela consciência. O símbolo da apresentação de Maria ao Templo equivale, portanto, à consciência da identidade de Maria e da sua função junto do Messias, cada vez mais importante, primeiro por parte dos seus familiares e, depois, por parte da própria Virgem Maria e, finalmente, por parte dos outros crentes. O sentido fundamental é este: Maria está sempre na presença do Senhor, integralmente dedicada ao seu serviço, crescendo na consciência de si e da sua missão.
Quando Deus se torna presente a nós em Jesus e na sua palavra, e nós nos tornamos presentes a Deus, em Jesus, e guardamos a sua palavra, também nos tornamos felizes, bem-aventurados, como Aquela que recebeu no seu ventre, transportou e deu à luz Jesus Cristo, nossa Bem-aventurança."

06 novembro 2019

A imbecilização consentida


A imbecilização consentida
Ou como nos deixamos riscar pela caneta azul
José Antonio Ramalho Forni

Várias pessoas já se manifestaram e é em respeito a elas que também faço.
Nos últimos dias difundiu-se mais uma bobagem imbecilizante chamada “caneta azul, azul caneta” (a virgula é um preciosismo meu).
Eu não tinha ideia, ou não queria aceitar,  que pudesse “colar” no referencial hilário das pessoas coisa desse tamanho. Já de algum tempo, levando em conta as letras de alguns Raps, isso já vinha acontecendo.
Da pegada pornô, passou-se para “pegada” nenhuma. E assim, sob uma delicadíssima camada de humor vai se repetindo um esvaziamento de conteúdo como jamais visto.
A questão que me chama é: o quê origina o quê?
Como se torna comum, via multiplicação nas redes sociais, torna difícil encontrar o gérmen desses procedimentos. Entretanto é necessário tentar entender.
Ver o vídeo de uma idiotice até o fim com o intuito de diversão pode denunciar a capacidade que tenho de digerir a refeição. Mas onde se origina?
Em diversas situações.
Na piada misógina, homofóbica, racista ou xenófoba, geralmente no meio masculino. Na discriminação de valores esportivos com a consequente piada. Na intolerância religiosa, com a profusão de ironias hipócritas contra ou a favor.
Se uma das regras para a construção de uma consciência crítica é o acolhimento do pensamento diferente com a discussão construtiva, o mesmo vale para a imbecilização: quanto mais eu compartilho, mais eu reforço esses valores na minha rede de relações e, principalmente, no meu pensar.
Logo, como sempre, o remédio para a ignorância é o confronto fraterno de idéias.
Este texto é sobre um único fato. Existem muitos outros exemplos que, dada a quantidade de idiotices, creio que não caberiam.
 Uma coisa não precisa ser, necessariamente, contra ou a favor de outra. Não vi, em nenhum momento, alguém manifestar-se contra a pessoa da tal caneta, mas aos efeitos que tal alienação, junto à mesma que colocou na cadeira de Presidência da República, uma figura sabidamente misógina, homofóbica, racista, xenófoba e entreguista, como de fato está provando, fazem à uma sociedade em franca destruição justamente pelas pessoas que tem o dever de defendê-la.##

A incrível história de um médico sem diploma.





Preparando para as celebrações do dia da consciência negra

Hamilton Naki, um sul-africano negro, de 78 anos, morreu no final de maio de 2005. A notícia não rendeu manchetes, mas a história dele é uma das mais extraordinárias do século 20. "The Economist" contou-a em seu obituário de setembro daquele ano.

Naki era um grande cirurgião. Foi ele quem retirou do corpo da doadora o coração transplantado para o peito de Louis Washkanky, em dezembro de 1967, na cidade do Cabo, na África do Sul, na primeira operação de transplante cardíaco humano bem-sucedida.

É um trabalho delicadíssimo. O coração doado tem de ser retirado e preservado com o máximo cuidado. Naki era talvez o segundo homem mais importante na equipe que fez o primeiro transplante cardíaco da história. Mas não podia aparecer porque era negro no país do apartheid.

O cirurgião-chefe do grupo, o branco Christian Barnard, tornou-se uma celebridade instantânea. Mas Hamilton Naki não podia nem sair nas fotografias da equipe.
Quando apareceu numa, por descuido, o hospital informou que era um faxineiro. Naki usava jaleco e máscara, mas jamais estudara medicina ou cirurgia.

Tinha largado a escola aos 14 anos. Era jardineiro na Escola de Medicina da Cidade do Cabo. Mas aprendia depressa e era curioso. Tornou-se o faz-tudo na clínica cirúrgica da escola, onde os médicos brancos treinavam as técnicas de transplante em cães e porcos.

Começou limpando os chiqueiros. Aprendeu cirurgia assistindo experiências com animais.  Tornou-se um cirurgião excepcional, a tal ponto que o cirurgião chefe de transplante, o jovem, bonito e notoriamente temperamental Christiaan Barnard requisitou-o para sua equipe.
Era uma quebra das leis sul-africanas. Naki, negro, não podia operar pacientes nem tocar no sangue de brancos. Mas o hospital abriu uma exceção para ele.

Virou um cirurgião, mas clandestino. Era o melhor, dava aulas aos estudantes brancos, mas ganhava salário de técnico de laboratório, o máximo que o hospital podia pagar a um negro. Vivia num barraco sem luz elétrica nem água corrente, num gueto da periferia.

Depois que o apartheid acabou, ganhou uma condecoração e um diploma de médico honorário.

Ele nunca reclamou das injustiças que sofreu durante toda a vida.

Este assunto foi matéria de quase todos os grandes jornais norte-americanos. Mas não se tem notícia de sua divulgação na imprensa brasileira.

Muitas vezes, fazer o trabalho de destruir um pensamento, ou uma cultura, ou ao "outro", basta contribuir para o seu esquecimento. Então é nossa obrigação fazer lembrar. 




01 novembro 2019

A infinita amplitude do SE


A infinita amplitude do SE

Um poema muito lido e difundido, Se (If, 1910)  do escritor indo-britânico Rudyard Kipling começa e termina condicionando uma afirmação a algumas situações. É talvez o mais conhecido universo das possibilidades do “será” condicionado ao “não ser”.

Toda e qualquer situação precedida de “se” adquire a potência de inúmeras nuances já que qualquer uma pode vir depois dela. Daí serem infinitas suas possibilidades. Por exemplo: SE tivesses chegado antes, tudo poderia caber aqui...SE homem engravidasse, qualquer afirmação caberia aqui. Uma vez que ainda não existe o fato, em podendo haver, qualquer cenário seria aceitável como possibilidade, ainda que resultem controvérsias insolúveis.
Estes movimentos mentais assemelham-se à espiral metafórica à qual a vida é comparada. De tempos em tempos os fatos se repetem sob outros ângulos, prismas, cenários, pessoas.
Lidar com temas fortes e impactantes abrindo-os com SE, exclui qualquer resposta ou contribuição de reais possibilidades. Mantém o campo no virtual, mote da filosofia mas que longe do dia-a-dia do ser humano comum, tão envolto em dramas, nem sempre criados por si mesmos, e sob a sombra nefasta de uma casta de cidadãos oriundos das mesmas hostes adoradoras de Moloch. Exercício de discussão é para quem deseja crescer. É isso que faço, para aprender....
Ou não...

"Depois das ondas" (daquilo que é mais certo das incertezas que me formam)




Como a maré, a vida "fluxa" (do verbo "fluxar"...ter fluxo/refluxo)   (se não existia, existe agora)
E o mar, tem suas próprias razões para ir e vir....energia....profundidade, mistérios e vida infinda...
Nosso fluxo de vida, mais ou menos se assemelha ao mar.
Como uma espiral ascendente, um furacão existencial, ela, vez em quando, passa pelo mesmo ponto, num plano diferente.
Estar atento a esses movimentos é a diferença entre quem somente passa pela vida sem vivê-la, como dizia Drummont, e de quem constroi sua própria felicidade.
Mas também creio que a felicidade passa pela transparência pessoal. Pela capacidade de se abrir. Porque transparência não é somente coerência mas também proximidade com a luz.
Acho importante lutarmos por sermos coerentes conosco mesmos. Transparentes para nossa própria consciência. E por aproximação, seremos também aos outros, que em geral, nos amam.
Vejo nossa busca nesse sentido. Conhecer-se, aceitar-se, amar-se ... Muito.
Depois das ondas, a areia...a praia.
O descanso.
O encontro com a realidade.

Gracinha da rede bobo

Quanto à tal manifestação do Senhor Alexandre "gracinha", da Rebe Bobo...Bem. 
Como não é para ele que vou postar, mesmo porque como ele mesmo disse, sem respostas, desejo que ele acabe sabendo que muitas pessoas, esclarecidas, ativas na busca das garantias dos direitos das pessoas mais pobres, inclusive os da minha sogra que estão ameaçados, sabem que este senhor representa, na fala e nas atitudes o seu patrão, Rede Globo. 
E mente tal qual seu patrão.
Viram o que dá a hipocrisia acadêmica? 
Qualquer pessoa que difunde tais mentiras, concorda que pobre não vale nada. Pois é isso que o Interventor propaga. 
Fora o machismo, discriminação de gênero, etc....!!