06 novembro 2019

A imbecilização consentida


A imbecilização consentida
Ou como nos deixamos riscar pela caneta azul
José Antonio Ramalho Forni

Várias pessoas já se manifestaram e é em respeito a elas que também faço.
Nos últimos dias difundiu-se mais uma bobagem imbecilizante chamada “caneta azul, azul caneta” (a virgula é um preciosismo meu).
Eu não tinha ideia, ou não queria aceitar,  que pudesse “colar” no referencial hilário das pessoas coisa desse tamanho. Já de algum tempo, levando em conta as letras de alguns Raps, isso já vinha acontecendo.
Da pegada pornô, passou-se para “pegada” nenhuma. E assim, sob uma delicadíssima camada de humor vai se repetindo um esvaziamento de conteúdo como jamais visto.
A questão que me chama é: o quê origina o quê?
Como se torna comum, via multiplicação nas redes sociais, torna difícil encontrar o gérmen desses procedimentos. Entretanto é necessário tentar entender.
Ver o vídeo de uma idiotice até o fim com o intuito de diversão pode denunciar a capacidade que tenho de digerir a refeição. Mas onde se origina?
Em diversas situações.
Na piada misógina, homofóbica, racista ou xenófoba, geralmente no meio masculino. Na discriminação de valores esportivos com a consequente piada. Na intolerância religiosa, com a profusão de ironias hipócritas contra ou a favor.
Se uma das regras para a construção de uma consciência crítica é o acolhimento do pensamento diferente com a discussão construtiva, o mesmo vale para a imbecilização: quanto mais eu compartilho, mais eu reforço esses valores na minha rede de relações e, principalmente, no meu pensar.
Logo, como sempre, o remédio para a ignorância é o confronto fraterno de idéias.
Este texto é sobre um único fato. Existem muitos outros exemplos que, dada a quantidade de idiotices, creio que não caberiam.
 Uma coisa não precisa ser, necessariamente, contra ou a favor de outra. Não vi, em nenhum momento, alguém manifestar-se contra a pessoa da tal caneta, mas aos efeitos que tal alienação, junto à mesma que colocou na cadeira de Presidência da República, uma figura sabidamente misógina, homofóbica, racista, xenófoba e entreguista, como de fato está provando, fazem à uma sociedade em franca destruição justamente pelas pessoas que tem o dever de defendê-la.##

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