A imbecilização consentida
Ou como nos deixamos riscar pela caneta azul
José Antonio
Ramalho Forni
Várias pessoas já se manifestaram e é em respeito a
elas que também faço.
Nos últimos dias difundiu-se mais uma bobagem
imbecilizante chamada “caneta azul, azul caneta” (a virgula é um preciosismo
meu).
Eu não tinha ideia, ou não queria aceitar, que pudesse “colar” no referencial hilário das
pessoas coisa desse tamanho. Já de algum tempo, levando em conta as letras de
alguns Raps, isso já vinha acontecendo.
Da pegada pornô, passou-se para “pegada” nenhuma. E
assim, sob uma delicadíssima camada de humor vai se repetindo um esvaziamento
de conteúdo como jamais visto.
A questão que me chama é: o quê origina o quê?
Como se torna comum, via multiplicação nas redes
sociais, torna difícil encontrar o gérmen desses procedimentos. Entretanto é
necessário tentar entender.
Ver o vídeo de uma idiotice até o fim com o intuito
de diversão pode denunciar a capacidade que tenho de digerir a refeição. Mas
onde se origina?
Em diversas situações.
Em diversas situações.
Na piada misógina, homofóbica, racista ou xenófoba,
geralmente no meio masculino. Na discriminação de valores esportivos com a
consequente piada. Na intolerância religiosa, com a profusão de ironias hipócritas contra
ou a favor.
Se uma das regras para a construção de uma
consciência crítica é o acolhimento do pensamento diferente com a discussão
construtiva, o mesmo vale para a imbecilização: quanto mais eu compartilho,
mais eu reforço esses valores na minha rede de relações e, principalmente, no
meu pensar.
Logo, como sempre, o remédio para a ignorância é o confronto
fraterno de idéias.
Este texto é sobre um único fato. Existem muitos
outros exemplos que, dada a quantidade de idiotices, creio que não caberiam.
Uma coisa
não precisa ser, necessariamente, contra ou a favor de outra. Não vi, em nenhum
momento, alguém manifestar-se contra a pessoa da tal caneta, mas aos efeitos
que tal alienação, junto à mesma que colocou na cadeira de Presidência da
República, uma figura sabidamente misógina, homofóbica, racista, xenófoba e
entreguista, como de fato está provando, fazem à uma sociedade em franca
destruição justamente pelas pessoas que tem o dever de defendê-la.##
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