31 outubro 2019

Nossa lingua


LÍNGUA PORTUGUESA

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
(Olavo Bilac)


Meus primeiros passos na poesia foram ao som de Olavo Bilac, na voz de minha mãe. Aprendi a amar esta língua. Forma e jeito que expressei meus primeiros sentimentos. Com ela aprendi a ser o que sou. E a dizer o que queria ser. E a balbuciar, sôfrego, o amor que sinto pela vida. E a ouvir, tudo de novo, no som infantil da voz de meus filhos...e o murmúrio feliz da amada, companheira de vida...
Não pude deixar de lembrar disso ao ler este texto e testemunhar que a identidade de um povo passa pelo amor e respeito que alimenta pela língua que o une a tantas culturas, como no Brasil. E não nos esqueçamos que não é necessário muito esforço bélico para dominar um povo. Basta matar sua língua, suas culturas, com depreciações mais banais, como tanto tentam fazer com nossa língua materna. Como temos feito com a língua de tantas cultura indígenas. Mas isso fica para outro momento...
Sou apaixonado, total e completamente por este país e por este povo. E tudo que brinca com as palavras me parece saudável de se exercitar. Portanto, compartilho agora. Com o perdão da intromissão...mas como porta entreaberta, que só se abre quando a empurramos...vamos lá.

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