Nem sempre usar a expressão "macaquice" significa que
estamos tratando de brincadeiras. Pode ser a expressão jocosa da repetição sem
crítica, sem reflexão, de algo que nos apresentam.
As crianças, e sendo pai de quatro
vivenciei isso em diferentes épocas, por um certo tempo, vivem questionamentos
sistemáticos, contínuos. Como se a pergunta, em si só, fosse o centro do assunto.
Muitas vezes nos parece que não querem a resposta. Precisam fazer a pergunta,
tão somente. Mas não. São nossas respostas que não a satisfazem. Acredito que
esse momento em suas vidas encerra, no ato de perguntar, tudo pelo que passa.
Quem sou, de onde vim, onde estou, como sou ou serei. Aprende, perguntando, a
ser e estar no mundo. Aos adultos nos cabe incentivar e qualificar esses
questionamentos para que construa as respostas também de si mesma. Só que isso,
por vezes, é abortado. Quando cerceamos o espaço da pergunta, censuramos o
universo criativo da criança. E se, na mesma direção, não oportunizamos resposta
adequada às questões e à sua idade emocional, não contribuímos para a formação
de cidadãos com visão crítica.
Uma das preocupações que tenho na
educação de crianças é com o incentivo a serem construtoras de sua própria
identidade. Somos filhos e filhas de um país com uma diversidade enorme de
expressões culturais. Na verdade, somos o país da festa. E quando vejo,
especialmente pelas pessoas com mais acesso à informação, fazerem a importação
e repetição de gestos, expressões e celebrações sem fazerem o mínimo de
reflexão sobre elas, me entristeço.
Pois outro dia me deparei com a
expressão "halloween". Já faz algum tempo que esse assunto provoca
minhas idéias e coça meus dedos. Agora, em nome de meus menores, Pedro e Davi
vou deixar as palavras serem minhas confidentes gráficas.
Este tal Hallowenn é um evento
originário entre os druidas celtas, povo que habitava a Irlanda e a
Grã-Bretanha, sendo comemorado desde há 2.500 anos. Acreditavam que na noite de
31 de outubro (ou o equivalente à data) as leis do tempo e do espaço eram
suspensas. Por causa disto, os espíritos vagavam soltos e os mortos visitavam
seus antigos lares para exigirem comida. Havia também nessa época o festival da
colheita, conhecido como "Samhain", chamado também "O Senhor dos
mortos", quando se faziam grandes fogueiras para assustar os espíritos.
Para que estes fossem embora, as pessoas saiam às ruas carregando velas acesas
e nabos esculpidos com rostos humanos, vestidos de modo mais assustador
possível. Faziam também muito barulho.
Nos Estados Unidos da América do Norte
o halloween chegou no século 19, e o nabo foi substituído pela abóbora, fruto
mais comum que o nabo. Na década de 20 a antiga tradição virou brincadeira e
hoje é uma das principais festas daquele país. Crianças saem fantasiadas pelas
ruas, batendo nas portas, dizendo “trick or treat” literalmente “doçuras ou travessuras”,
para ganhar doces, tudo isto nos dia das bruxas.
Dia das bruxas? Vejamos: As bruxas
modernas tendem a se referir à sua religião como wicca, a forma feminina de
wicce - do inglês antigo, que significa witch - bruxa. Tanto os seguidores do
sexo masculino quanto do feminino são conhecidos como bruxas e bruxos, embora o
culto seja decididamente matriarcal, onde a suprema sacerdotisa de cada
convenção é vista como a personificação - em alguns ritos, até mesmo como
encarnação - da grande mãe deusa, que é a divindade principal do movimento. Os
maiores festivais da bruxaria moderna são sazonais. Marcam o equinócio da
primavera em 21 de março, Beltane em 30 de abril, o solstício de verão em 22 de
junho, Lammastide em 1º de agosto, o equinócio de outono em 21 de setembro, o
Halloween em 31 de outubro, o solstício de inverno em 21 de dezembro e
Candlemas em 2 de fevereiro. As atividades da bruxaria são essencialmente atribuídas
às mulheres.
Algumas bruxas trabalham vestidas com
manto, outras nuas, e outras das duas
maneiras, dependendo das condições meteorológicas. Apesar dos aspectos de
fertilidade do culto, há pouco sentido sexual na nudez, que é adotada por causa
da crença das bruxas, que as roupas interferem na emanação da energia pessoal.
Atribui-se às bruxas evocar os 'poderosos', os soberanos, e os elementais da
Terra, do Ar, do Fogo e da Água. Fazem parte das cerimônias os ritos de
possessão mediúnica de muitas religiões xamânicas.
É certo que na inquisição, mulheres
velhas, solitárias e as parteiras, entre outras eram acusadas de bruxaria, e
por isso foram queimadas e torturadas simplesmente porque eram denunciadas por
seus vizinhos com quem não tinham um bom relacionamento ou porque detinham algo
muito perigoso para as mulheres da época: o conhecimento.
Eis o recorte que quero fazer. Aquelas
mulheres, que os contos ocidentais se encarregaram de retratar como
absurdamente feias e rancorosas, e que até comiam criancinhas (ver a história
de João e Maria) perseguidas e exterminadas continuam sendo até hoje. O halloween não deixa de ser a perpetuação do
deboche ao diferentes pelo viés de expressão cultural, realidade esta que vem
se intensificando no Brasil a cada ano que passa. Um dos focos são as escolas
de inglês, que incentivam seus alunos a participarem das tais
"festividades". Empresas, comunidades, entre outros, promovem o
halloween no Brasil, e é cada vez mais comum ouvirmos nas ruas frases como
"feliz halloween!". Mas como pode ser feliz um procedimento com as
bases que tem, se faz apologia ao terror?.
Aliás, está na mesma linha de ética de
conhecidos desenhos infantis(?), Street-racer, Pokémon, etc, que pais e mães
permitem serem assistidos. Ao mesmo tempo em que parecem uma inocente e pueril
brincadeira trazem relações de violência, banalização da dor e dos instrumentos
que a geram.
E de novo os órgãos de imprensa se
prestam a divulgar o evento dando a ele um veio cultural, quando na realidade é
um cerimonial funesto.
Será que não temos alternativas com
criatividade e ligação com NOSSA história?
Será que depositamos nossos filhos em
instituições somente para "quebrar nosso galho" quanto ao tempo de
ficar com eles para que possamos produzir, ganhar dinheiro e gastar com esses
valores que tentam fazer engolirmos sem pensar? Pois essa é a lógica desse
pensamento mercantil. Cria-se um fato cultural (mesmo que não exista) e
contabilizamos em cima dele.
Não desejo educar filhos em redoma de
vidro. Seria uma violência para com eles. Então essas perguntas me trouxeram
aqui.
Como disse no título, é uma questão de
importação. E se é verdade, poderemos pensar em "exportar" o
Boi-da-Cara-Preta, O Saci-Pererê, o Sucupira e tantos outros personagens
imaginários da cultura brasileira que
até poderemos mudar a balança comercial tal a diversidade existente.
Então que pelo menos que minha
contribuição abra espaço para a discussão desses valores pois, afinal, quem vê,
o faz a partir de um ponto e mudando o ponto podemos mudar o modo de ver....
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