06 agosto 2010

Sonho e realidade.


Por momentos imagens desfilam a minha frente.
De início, desconexas...organizam-se...superpõem-se.
Não tenho idéia do tempo que isso leva...sinto que são emanações do tempo...
Talvez seja um sonho...talvez...próximo demais da realidade para o sê-lo...
Mas também...o que é a realidade? Ou o sonho? Partes da mesma dimensão?
Onde se encontra a linha divisória entre uma e outro? Será que existe?
E se existe, será igual para todas as pessoas? Desconfio que não.
Uma criança intercala a dimensão onírica com a realidade. A fantasia com o real. O faz-de-conta se torna instrumento de sua aprendizagem do mundo (feito essencialmente pelos e para os adultos) que se descortina à sua volta. E é navegando por essa dimensão que ela vai construindo as relações, em todas as instâncias.
Ora, se quando pequenos fazemos esse exercício, porque negamos que o fazemos quando adultos?
Claro, a realidade que o mundo se nos impõe limita-se àquilo que pode ser medido. Tocado. Comparado com o já conhecido. Enfim, segundo um critério cientificista. Cartesiano.
Então..., sonho ou realidade?
Realidade. Mesmo que ainda não completamente desenvolvida...
Ouço sons seqüenciais. Como batidas de...é conhecido...já ouvi em...
Não lembro...mas é conhecido...hum...hum...sim!
Parece...sim...cloc..cloc..cloc..cloc e repete...cloc..cloc..cloc..cloc...
É o trote de um cavalo...no paralelepípedo! Mas aqui?
Mas onde estou? Ah sim, estou, digamos, sonhando...tudo tão real...tão familiar...
Os lençóis de algodão quase cru. O colchão, parte de um vegetal que chamávamos de "crina". Do outro lado, forrado de lã...
Cobertor "La Aurora" xadrez...hummmm...lembranças...?
Viro-me na cama, parte inferior de um beliche que tinha sido separado. Apuro o ouvido e confirmo:
É a carroça do padeiro....nossa...como é que pode?
Mas faz tanto tempo..!
Uma estrutura de metal, tipo baú...reluzia...a lua alta no céu. É noite de primavera...
Madrugada, a carroça geme. Como se reclamasse estar tão cedo no trabalho. ou para acordar a cidade com seu protesto. Não sei, não.
Acho que é sua forma de cantar...muita gente canta ao trabalhar. Alegra o coração. Dá ritmo ao mister...
É...é uma canção...pelo menos meu coração sente que é isso.
O guinchar dos ferros com a madeira traz um cabedal de recordações. Que não se limitam ao universo momentâneo do padeiro e sua faina...
Na memória um nome: "seu" Osmar. O leiteiro...vinha de longe. Foi referência de minha infância...veja só... movimento-me entre a realidade do sonho e a realidade desse momento de escrita.
Esse movimento é muito interessante. Num só tempo, meu ser menino se encontra com o eu adulto. E confabulam. Trocam experiências profundamente interligadas mas forçadamente distanciadas pelo pensamento científico...
O menino vê as imagens. Ouve os sons, os ruídos...emociona-se e transmite ao adulto esses sentimentos...e sinto agora de novo, ao escrever tudo isso.

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