06 agosto 2010

Vítimas e algozes.

Lembranças são nossas garantias de identificação com fatos.
Construímos nossa identidade, em grande parte, com lembranças. Conscientes e inconscientes.
Afinal, não somos seres de uma só dimensão.
Assim, multifacetados, temos um universo de possibilidades para ser, para fazer, para estar e para sentir.
Humanos, trazemos intrinsecamente o erro e a virtude. A santidade e a possibilidade do fracasso.
O escopo desejado é o equilíbrio dessas possibilidades. Mas com a sutil predominância para o bem, o certo, o divino.
Se assim não fosse, a humanidade não vingaria.
A fé cristã gesta o amor. É indissociável dele. O Mestre anunciava-se como sedo o próprio Amor.
Amor de entrega. De compreensão. De perdão e acolhimento. Foi assim com a prostituta, com o coletor de impostos, com o centurião e tantos outros. Acolhidos em sua infinita identidade com o Criador e na profunda possibilidade de reconciliação. Reconciliação esta que deve nascer sempre de um dos lados. Normalmente daquele que dispõe de mais Amor.
Pois bem. Projetemos essas palavras para nosso tempo.
Quantas vezes temos promovido essa dimensão (reconciliação) divino-humana em nossas relações?
Como país, em nossa prática política recente, tivemos decisões que foram muito polêmicas.
É o caso da Lei de Anistia. Como dizia o então presidente Figueiredo, "ampla, geral e irrestrita".
AMPLA por abarcar todos os atos durante um período de tempo considerado.
GERAL por premiar a TODOS envolvidos nesse tempo e com aqueles atos.
IRRESTRITA por não impor condições aos envolvidos.
Foi, a meu ver, ainda que se tenha tido profundas controvérsias, o ponto de equilíbrio humano adotado para aqueles fatos.
O Estado Brasileiro deu a seus cidadãos (que somos nós mesmos, organizados) a oportunidade de reorganizar a sociedade lacerada por anos de disputas, nem um pouco fraternas.
Recolocar nessa questão a possibilidade de qualquer julgamento pretérito é, a um tempo, burlar a Lei, fracionar o equilíbrio e alimentar a luta fratricida.
Assim, remexer instrumentalmente nas memórias para delas apontar culpados de um lado pode dar margem a que se busque também culpados do outro lado.
Como disse antes, luta fratricida, de mentes que não souberam efetivamente exercer a capacidade de reconciliação, apesar de, em grande número, terem sido indenizadas pelo Estado Brasileiro.
Para algumas pessoas, com valores considerados um absurdo para a maioria do povo brasileiro.
Portanto, a idéia que gostaria de debater tem mais a ver com reconciliuação de com perseguição.
Afinal, a vida e suas vicissitudes fazem com que aprendamos.
Seguramente a memória daqueles que usaram de violência contra outros brasileiros não vai deixá-los esquecer.
Nossa missão é construir um alicerce moral para que possamos legar um país melhor para nossos filhos.
Não sigo o mau exemplo de carrascos. Ou de terroristas. Nem a fala mansa de políticos de profissão.
Creio que temos um sistema de governo que exige alguns papéis. Deles não podemos prescindir.
Então, tenho que indicar para esse sistema aqueles e aquelas que, segundo meu discernimento, possuem mais condições de fazer acontecer o meu sonho de cidadania.

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