17 janeiro 2020

Humor ou Desaforo?



Assisti o polêmico instrumento de sátira denominado "A primeira tentação de Cristo" do grupo Porta dos Fundos.

Para opinar sobre a polêmica é importante que fale sobre conceitos que orbitam ao assunto. 
O primeiro é sobre liberdade de expressão. Qualquer manifestação da inteligência humana deve ser respeitada. Desde que não vá contra o direito de outra pessoa. Ainda assim, cabe buscar uma mediação para quando houver dúvida sobre isso.
O segundo é sobre deboche. Sendo desconsideração, desprezo e escárnio - trata-se de diminuir a importância de assunto ou pessoa.https://dicionario.priberam.org/deboche [consultado em 17-01-2020] 
Neste caso, muito mais que direito à livre manifestação artística, fixa-se o deboche como mote da peça. E, assim sendo, beira à discriminação, à uma expressão de religiosidade, com a deturpação de personalidades, caráter e informações de cunho histórico e/ou de fé.
Antes que alguma pessoa purista em liberdades individuais me açoite, adianto. Em nenhum momento a condição sutil da homossexualidade do protagonista pode ou vai ser questionada como insulto. Antes. É da essência do cristianismo o acolhimento das pessoas periféricas. Portanto, não é essa questão que, aliás, tem sido a linguagem subliminar das ferocidades alardeadas por grupos radicais pseudo cristãos.
O que me choca é o deboche com valores particulares da fé cristã, especialmente a católica, no que se refere à inteligência (na verdade o mostram como um idiota) e inserção social de Jesus, com a postura devassa de sua mãe e a figura de um deus que se faz humano e tão lascivo quanto infere-se da característica dos autores.
Manifestar que a primeira tentação de Cristo tenha sido sua iniciação homossexual seria uma entre tantas tentações possíveis a um ser humano. Os Evangelhos elencam outras, dadas como mais importantes para a época e público.
Sim, porque Jesus assumiu totalmente sua humanidade. E foi assassinado por isso.
E continua sendo hoje na carne e sangue dos povos perseguidos e massacrados. Das mulheres violentadas. Do povo negro ainda escravizado. Dos "leprosos" LGTI. Dos povos das matas.
E mais, na deturpação de sua mensagem (que aliás nada foi dito), especialmente por aquelas pessoas que, em seu nome, repetem as ações dos fariseus, da inquisição, dos nazistas, dos neo-fascistas que fazem dos pastores da teologia da prosperidade, seus ideólogos, que só vêem o próprio umbigo.
Não vejo na censura, como foi tramada, algo de bom. Ela dá margem a que se faça discriminações. Creio numa ação firme de reparação de danos pelo desrespeito gratuito e mentiroso.
Por outro lado entristece-me que setores progressistas fiquem cegos e mudos aos aspectos do respeito à diversidade, tão caros em suas manifestações.
Para ver que a hipocrisia é um mal que todos podemos contrair.

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