Assisti o polêmico instrumento de
sátira denominado "A primeira tentação de Cristo" do grupo Porta dos
Fundos.
Para opinar sobre a
polêmica é importante que fale sobre conceitos que orbitam ao assunto.
O primeiro é sobre
liberdade de expressão. Qualquer manifestação da inteligência humana deve ser
respeitada. Desde que não vá contra o direito de outra pessoa. Ainda assim,
cabe buscar uma mediação para quando houver dúvida sobre isso.
O segundo é sobre deboche. Sendo
desconsideração, desprezo e escárnio - trata-se de diminuir a importância
de assunto ou pessoa.https://dicionario.priberam.org/deboche [consultado
em 17-01-2020]
Neste caso, muito
mais que direito à livre manifestação artística, fixa-se o deboche como mote da
peça. E, assim sendo, beira à discriminação, à uma expressão de religiosidade,
com a deturpação de personalidades, caráter e informações de cunho histórico
e/ou de fé.
Antes que alguma pessoa purista em
liberdades individuais me açoite, adianto. Em nenhum momento a condição sutil
da homossexualidade do protagonista pode ou vai ser questionada como insulto.
Antes. É da essência do cristianismo o acolhimento das pessoas periféricas.
Portanto, não é essa questão que, aliás, tem sido a linguagem subliminar das
ferocidades alardeadas por grupos radicais pseudo cristãos.
O que me choca é o deboche com valores
particulares da fé cristã, especialmente a católica, no que se refere à
inteligência (na verdade o mostram como um idiota) e inserção social de Jesus,
com a postura devassa de sua mãe e a figura de um deus que se faz humano e tão
lascivo quanto infere-se da característica dos autores.
Manifestar que a primeira tentação de
Cristo tenha sido sua iniciação homossexual seria uma entre tantas tentações
possíveis a um ser humano. Os Evangelhos elencam outras, dadas como mais
importantes para a época e público.
Sim, porque Jesus assumiu totalmente
sua humanidade. E foi assassinado por isso.
E continua sendo hoje na carne e sangue
dos povos perseguidos e massacrados. Das mulheres violentadas. Do povo negro
ainda escravizado. Dos "leprosos" LGTI. Dos povos das matas.
E mais, na deturpação de sua mensagem (que aliás nada foi dito), especialmente por aquelas pessoas que, em seu nome, repetem as ações dos
fariseus, da inquisição, dos nazistas, dos neo-fascistas que fazem dos pastores
da teologia da prosperidade, seus ideólogos, que só vêem o próprio umbigo.
Não vejo na censura, como foi tramada,
algo de bom. Ela dá margem a que se faça discriminações. Creio numa ação firme
de reparação de danos pelo desrespeito gratuito e mentiroso.
Por outro lado entristece-me que
setores progressistas fiquem cegos e mudos aos aspectos do respeito à
diversidade, tão caros em suas manifestações.
Para ver que a hipocrisia é um mal que
todos podemos contrair.
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